A Rússia praticamente perdeu o mercado de gás da Europa

Apesar do mercado de gás russo perder espaço na Europa, o fluxo de gás ainda continua constante por vias alternativas.

Depois de chegar a um acordo sobre o teto do preço do petróleo russo no início de janeiro, os países da UE começaram a discutir um mecanismo semelhante no mercado de gás, mas não chegaram a nenhum acordo até agora.

Há muitas questões em aberto se o Ocidente conseguirá desligar completamente o gás da Rússia e se a Europa está bem preparada para o inverno mais rigoroso de muitos anos, e outros já arriscam dizer que a Rússia PERDEU o mercado de gás da Europa, mas não o fluxo ainda constante.

Os países da UE concordaram recentemente com um teto de preço do petróleo da Rússia em US$ 60 por barril. O limite deve ser revisto a cada dois meses. Um mecanismo semelhante está sendo discutido para o gás natural agora, mas não há consenso até o momento.

Teto de preço sobre o gás natural russo?

Esses dois mecanismos são de natureza diferente. O teto do preço do petróleo é um mecanismo político usado para controlar as vendas do petróleo da Rússia a terceiros (os compradores), bem como os negócios das empresas de serviços sediadas na União Europeia.

Não se trata realmente do mercado europeu. O teto do preço do gás é uma forma de, de alguma forma, segurar o preço do gás na Europa e sabe-se que o preço do gás russo é o mais barato do mercado.

A diferença conceitual é que os países da UE concordaram antecipadamente com o embargo ao petróleo da Rússia, transportado por via marítima. Portanto, a Rússia não fornece mais petróleo para a UE, e o limite de preço apenas regularia seus suprimentos para outros países e como as empresas de serviços baseadas na UE trabalhariam com esses suprimentos.

Países fora do acordo do teto de preço de petróleo russo da União Europeia devem acatar às regras?

Os países que não apoiaram o teto do preço do petróleo não estão realmente vinculados a essa decisão, pois é mais de natureza política. Obviamente, os compradores estão usando isso para pressionar a Rússia e comprar petróleo a um preço mais baixo, mas isso é tudo.

Como já destacado o petróleo e o gás russos são os mais baratos do mercado, e estipular um teto de preço limitaria a Rússia em subir seus preços, perdendo valores, mas ainda não se chegou ao teto de US$ 60.

A situação do gás é diferente: nenhum embargo está planejado contra o fornecimento de gás natural da Rússia à UE até agora. A segunda diferença é a proporção das commodities da Rússia.

Atualmente, a UE recebe cerca de 7% de todo o gás que consome da Rússia, isso representa uma diminuição no fluxo russo à medida que os gasodutos Nord Stream 1 e 2 no Báltico foram à ruína, sobrando apenas as vias marítima do Mar Negro pelo Turkish-Stream e pelos gasodutos que corta a Ucrânia.

Vale destacar também o gasoduto que passa pela aliada incondicional da Rússia, a Bielorrússia, uma linha importante e fornecedora de gás para a Polônia, partes da Alemanha e Reino Unido.

O fornecimento de gás russo caiu verticalmente

Os volumes de fornecimento de gás para a UE caíram quase dez vezes em comparação com o que costumava ser antes. Portanto, um teto de preço do gás impactando os suprimentos da Rússia está fora de questão.

Atualmente, a maior parte do fornecimento de gás para a Europa é de gás natural liquefeito (GNL) dos EUA e Catar, bem como da Noruega e Argélia. Nenhum desses fornecedores vai se contentar com restrições.

Entretanto, o preço do GNL é muito alto em comparação ao canalizado de gás natural, isso se deve a todo o preço de liquefação e transporte por vias terrestres ou marítimas até as fontes pagadoras.

Se a UE fixar o preço máximo em, digamos, US$ 3.000 por 1.000 metros cúbicos de gás, isso significará que nenhum gás seria vendido na Europa acima desse preço. Mas, novamente, esta não é uma decisão contra a Rússia, já que agora tem apenas uma pequena participação entre os suprimentos de gás da Europa.

Tal decisão pode desencadear uma resposta negativa dos principais fornecedores nos EUA, Catar, Noruega e Argélia.

Além disso, se o preço do gás permanecer em mais de US$ 3.000 por 1.000 metros cúbicos por muito tempo, a indústria da UE precisará ser fechada completamente e transferida para o exterior, como os EUA ou outro lugar onde o mercado energético é mais atraente.

Vai ser completamente não competitivo com esses preços de gás. Portanto, este não é um teto para o preço do gás, mas, digamos, um golpe letal contra toda a indústria da UE (e não apenas a indústria, mas também outros consumidores, até pessoas comuns).

Observa-se em nações como França e Inglaterra o preço da energia elétrica disparar.

A proposta de teto de preço para o gás afasta as nações europeias

Eles não podem concordar porque um teto de preço, caso seja introduzido, pode assustar os vendedores que já disseram muitas vezes que não tolerariam quaisquer restrições não relacionadas ao mercado, é uma espécie de protecionismo econômico. Assim, eles podem simplesmente se recusar a fornecer gás.

Há muito pouca chance de um teto de preço do gás ser introduzido porque o risco é muito alto e ninguém quer que isso aconteça. É por isso que a UE considera uma opção de US$ 3.000 por 1.000 metros cúbicos; isso não será um limite, mas sim um preço que causaria o fechamento da bolsa caso o nível de preços fosse ultrapassado.

A Rússia declarou que não forneceria seu petróleo aos países que aderirem ao preço máximo (teto de preço)

A declaração da Rússia é um tanto vaga pois muitos países em questão já impuseram um embargo ao petróleo russo. Os EUA e o Canadá fizeram isso na primavera, o Reino Unido se juntou a eles no verão, enquanto a UE impôs o embargo em 5 de dezembro.

A Noruega é o único país que aderiu ao limite de preço, mas não impôs um embargo, mas a Noruega nunca comprou petróleo da Rússia, pois é um exportador de petróleo.

Serão alguns fornecedores mais sólidos que parariam de exportar petróleo para a Europa, em vez da Rússia, caso quaisquer restrições fossem introduzidas.

Na verdade, não importa se a Rússia interrompe ou não seus suprimentos. A Rússia exporta atualmente 42 milhões de metros cúbicos de gás para a Europa via Ucrânia todos os dias, ou mais de 15 bilhões de metros cúbicos por ano. Esta é uma quantidade miserável de gás; é menos de 3% da produção total de gás da Rússia. Então, não importa se esses 3% estão lá ou não.

A Europa pode parar de comprar gás imediatamente simplesmente bloqueando o cano de gás. É importante, no entanto, que a Gazprom possa entrar com uma ação judicial caso isso aconteça.

A Rússia praticamente perdeu o mercado europeu de gás, mas estamos falando do gás que é transportado por dutos. No entanto, uma oferta recorde de gás liquefeito neste ano, tanto em volume físico quanto em valor total.

É mais provável que, eventualmente, a Rússia forneça apenas gás liquefeito para a Europa. Mas o gás liquefeito é uma mercadoria instável: vende hoje para a Europa e amanhã pode vender para a Ásia. É uma coisa que pode ser revendida muitas vezes antes de chegar ao consumidor final. O gás liquefeito sempre encontrará seu comprador no mercado global.

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Felipe Moretti
Felipe Moretti
Jornalista com foco em geopolítica e defesa sob registro 0093799/SP na Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. Especialista em análises via media-streaming há mais de 6 anos, no qual é fundador e administrador do canal e site analítico Área Militar. Possui capacidade técnica para a colaboração e análises em assuntos que envolvam os meios de preservação e manutenção da vida humana, em cenários de paz ou conflito.
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