Um vídeo não datado e polêmico tem circulado nas redes sociais nos últimos dias e que mostra uma britânica ruiva com seu amigo subindo uma favela localizada no Rio de Janeiro por meio de um serviço de mototaxi local sem capacete e sem a regularização do Estado.
O vídeo postado no Twitter pelo Área Militar foi enviado por um morador do Vidigal que pediu para não ser identificado, e alcançou não somente 600 mil visualizações em menos de dois (2) dias, mas o questionamento de muitos perfis sociais sobre os riscos disso.
Britânica em busca de “aventura” subiu a favela no Rio. Como será o resultado? pic.twitter.com/kVEQ44eZTd
— Área Militar (@areamilitarof) April 28, 2023
No vídeo é possível observar a exautação de um dos mototaxistas que gravava a turista sendo levada ao interior da favela não identificada.
Um dos momentos do vídeo o motociclista diz se a turista “hablas”, a britânica em seguida diz “no hablas!”, e ele completa “no hablas?”. No final o mototaxistas confirma que para “gringa é mais caro, bebê”, em referência ao preço do transporte.
O profissional mototaxista não identificado realmente fez muito sucesso com o vídeo. Não se sabe quem é a britânica, o que pretendia e como e quando saiu da favela.
Mas qual o problema de uma turista subir o morro de uma favela no Rio de Janeiro? Nenhum, é claro, caso a favela fosse da sociedade do Rio de Janeiro.
Para todas as favelas controladas pelas facções criminosas altamente “armadas até os dentes” e com alto índice de crimes hediondos é uma péssima opção pelo desfecho que situações como essas foram registradas no passado.
Provalvemente a britânica ruiva estava seguindo para um passeio ou hospedagem no interior da favela. Hospedagem? Sim.
Existe um sistema de hospedagem nas favelas do Rio que oferece acolhimento em albergues e hostels para turistas que desejam conhecer a “cultura local” e se aventurar nas famosas manchetes policiais que observam nos jornais do Brasil e pelo mundo sobre as favelas do Rio de Janeiro.
De acordo com um morador do Vidigal de 27 anos que não autorizou a divulgação de seu nome e que enviou o vídeo, os albergues, hostels e pensões possuem o “guarda-chuva de segurança” das facções. Segundo ele, turistas ingênuos ou àqueles em busca de aventura nas drogas, bailes e exploração sexual se sentem mais seguros dentro da favela do que nos grandes centros ou praias das cidades, e isso tem um porquê.
A compra e o uso de entorpecentes por turistas é muito mais fácil do que nas grandes cidades. O turismo e o tráfico de drogas nas favelas preenchem os cofres do crime organizado e permite financiar o capital de giro na compra ou aluguel de armas para assaltos, segurança dos pontos de drogas (biqueiras) e a promoção de ONGs e políticos alinhados aos interesses do comando, tudo através da compra de produtos ilícitos, bem como no pagamento de “impostos/pedágios” pelos albergues e serviços de transporte locais, assim como o imposto pago pela compra de um produto legalizado no supermercado que retorna ao Estado.
“Subir o morro” tem seus riscos. Uma pessoa comum, seja turista ou residente, não consegue essa façanha sem autorização dos criminosos, a menos que use os meios de transporte e já tenha prévia comunicação da favela.
Casos em que turistas foram mortos por criminosos nas favelas
Em agosto de 2022, um americano foi baleado e morto na comunidade do morro do Fubá, em Cascadura, Rio de Janeiro.
Em outubro de 2017, uma turista espanhola foi morta após ser atingida por um tiro durante um tour pela Favela da Rocinha.
Em agosto do mesmo ano, uma britânica foi morta por tiros no abdome por traficantes da comunidade de Água Santa, em Angra dos Reis.
Em dezembro de 2016, um turista italiano foi morto após entrar por engano no Morro dos Prazeres, favela em Santa Teresa. O italiano e seu primo foram abordados por criminosos e levados para um local no interior da comunidade.
Em setembro do mesmo ano, uma turista paulista foi esfaqueada e morta em Ilha Grande durante um assalto.
Ainda em 2016, em fevereiro, um peruano e uma argentina foram mortos, em diferentes partes da cidade, durante assaltos realizados por criminosos.
O crime domina o Rio de Janeiro, aliás, o crime compensa no Brasil
De acordo com dados de 2020 encaminhados ao Ministério da Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, o Rio tem 1,4 mil favelas dominadas por criminosos, o tráfico domina 81% desses territórios e a milícia está em 19% das favelas.
Em comparação ao efetivo dos marginais, o Rio de janeiro tem 56,6 mil criminosos em liberdade, mais que o efetivo da Polícia Militar do Estado que tem 44 mil.