Qual a posição do Brasil numa possível guerra EUA e Rússia?

Caso Putin mude sua estratégia de influência e resolva invadir sua vizinha, um conflito iminente se transfixará toda a Europa, e qual seria a posição do Brasil?

A Rússia mobilizou mais de 100.000 soldados, blindados, artilharias e mísseis perto das fronteiras da Ucrânia que, por sua vez deslocou milhares de tropas, recebeu toneladas de suprimentos de mísseis e bombas de origem americanas, e passou a realizar exercícios com a OTAN nos últimos meses, inclusive atacou posições de povos pró-russia na região em disputa de Donbass com drones turcos.

A Rússia não recebeu uma “resposta positiva” dos Estados Unidos e da OTAN em sua principal demanda de segurança em relação à Ucrânia, mas ainda pode haver espaço para mais discussões sobre outras questões.

Moscou está buscando garantias abrangentes para limitar a expansão da OTAN na Europa Oriental e no espaço pós-soviético, incluindo a promessa de que a Ucrânia nunca se juntará à aliança militar do Atlântico.

Essas respostas oficiais escritas e entregues a Putin, apresentadas na tarde de quarta-feira passada, 26 de janeiro, os EUA e a OTAN rejeitaram a exigência da Rússia de bloquear a Ucrânia da OTAN, reiterando seu compromisso com a política de portas abertas da Aliança, porém há uma resposta que dá esperança para o início de uma conversa séria sobre questões secundárias.

Os EUA disseram que receberam uma resposta por escrito da Rússia a uma proposta dos americanos destinada a diminuir a crise na Ucrânia. Mas horas depois, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia disse que isso não era verdade e uma fonte jornalística na Rússia destacou que Putin ainda estava preparando uma resposta.

A Ucrânia e o lobby anti-Rússia da OTAN divergem sobre invasão iminente. O presidente ucraniano Zelensky e seus assessores de defesa e segurança estão avaliando as intenções do líder russo Vladimir Putin de forma diferente de muitos de seus colegas ocidentais.

Mas caso Putin mude sua estratégia de influência, já que busca redefinir o que o Ocidente considera comportamento inaceitável, e impedir a ameaça de posições militares fortes que poderiam minar sua paz no futuro, e resolva invadir sua vizinha, imergimos em outro hipotético cenário, o da intervenção da OTAN em auxílio bélico a favor da Ucrânia, um conflito iminente que transfixará toda a Europa.

Diante deste cenário, como permaneceria o Brasil nesta situação? Tem alguma ideia de como seria? Escreva nos comentários para que eu possa responder e acompanhe esta análise.

Durante anos, o Brasil desempenhou importante papel diplomático e mantenedor de paz com suas Forças Armadas no exterior com mais de 55 missões de paz.

O perfil nato das tropas brasileiras foi forjado na manutenção da paz, e não de intervir para estabelecer, até porque a Constituição Federal de 1988 estabelece o artigo 137 que preconiza ao Presidente da República, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio no caso de uma resposta a agressão armada estrangeira.

Visando impedir a agressão fútil e sem provocação brasileira, a Constituição também preconiza a diplomacia por meio da Defesa para se chegar a um equilíbrio, a busca da paz e a estabilidade da paz, sendo assim, compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais, declarar a guerra, celebrar a paz e assegurar a defesa nacional.

Na Segunda Guerra Mundial, o Estado Brasileiro foi pressionado pelos americanos a adotar uma posição bélica frente ao conflito na Europa, haja vista que Vargas adotava uma postura mais condizente com o avanço italiano que da Aliança ocidental.

Os EUA deram opções de crescimento e alavancagem econômica, industrial e bélica ao Brasil, cujas pupilas se dilataram e sangue em fervor pelo dinheiro americano, cedeu seus portos e aeroportos às tropas norte-americanas, sendo considerado os primórdios da preparação de uma nação aguerrida em solo estrangeiro.

A guerra em si na Europa não determinou a entrada ou a posição do Brasil no conflito, mas a clara resposta à injusta agressão sofrida entre fevereiro e agosto de 1942, quando navios mercantes brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães.

A efígie do passado se faz presente, a Constituição de 1988 concede a posição do Brasil não pelos anseios do Presidente, no caso de Jair Bolsonaro, a declaração de guerra seja precedida de prévia e ampla decisão coletiva entre os dois Poderes, o Legislativo e o Executivo, através do Congresso Nacional.

Para tanto, o Brasil goza de boas relações com os americanos. De acordo com a própria Embaixada americana, as duas nações têm uma parceria forte, dinâmica e crescente.

A relação bilateral promove o crescimento econômico, maior acesso à educação, tecnologia e emprego, além de fortalecer a aplicação da lei e da justiça e promover a segurança energética e a estabilidade regional e mundial.

Em 01 de agosto de 2019, o presidente americano Donald Trump, designou oficialmente a nação brasileira como aliado militar preferencial do país fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ou seja, o Brasil ocupa agora o status de membro Extra-OTAN, o que facilita a compra de tecnologia militar e armamentos dos EUA, entre outras vantagens.

O Brasil se tornou o segundo país da América Latina, depois da Argentina, a receber o status especial, que permite aprofundar a cooperação militar bilateral.

Por outro lado, as relações com a Rússia sempre caminharam a passos regrados, apesar do Brasil ter sido um dos primeiros países a reconhecer a Federação da Rússia como o sucessor legal da União Soviética em 26 de dezembro de 1991.

De acordo com a Embaixada Russa no Brasil, nos últimos anos as relações russo-brasileiras vêm ficando cada vez mais compreensivas, incluindo cooperação na área da economia e finanças, energia, defesa, ciência e tecnologia, agricultura, cultura, educação e esporte.

Segundo o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, a cooperação de parceria entre a Rússia e o Brasil no âmbito da ONU, BRICS, G20 e OMC representa um fator importante da estabilidade global.

No quesito tecnologia e defesa, foi prorrogado o contrato de exploração da estação de monitoramento GLONASS na cidade de Recife bem como da estação óptica quântica na cidade de Brasília. No total no território do país funcionam 4 sistemas GLONASS, uma constelação de satélites russa muito bem detalhada no canal.

Com base nas intrínsecas e estreitas relações e cooperação com as duas potências mundiais, à medida que um possível conflito intercontinental tome forma, o Brasil buscaria formar junto com Conselho da República e Conselho de Defesa caminhos racionais de manutenção da paz em todo o território brasileiro, e se posicionar a partir do momento que uma injusta agressão estrangeira se faz presente contra qualquer cidadão, propriedade ou território brasileiro.

Sabendo que o Brasil é uma terra de grandes provimentos manufaturados e agropecuários ao mundo, com a China, União Europeia e EUA os maiores clientes, uma posição rápida ante a um conflito intercontinental será cobrada, caberá aos estrategistas militares brasileiros e aos representantes do povo manter a sobriedade e calcular o custo e benefício de uma guerra, sempre pensando no interesse da nação brasileira.

Felipe Moretti

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Felipe Moretti
Felipe Moretti
Jornalista com foco em geopolítica e defesa sob registro 0093799/SP na Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. Especialista em análises via media-streaming há mais de 6 anos, no qual é fundador e administrador do canal e site analítico Área Militar. Possui capacidade técnica para a colaboração e análises em assuntos que envolvam os meios de preservação e manutenção da vida humana, em cenários de paz ou conflito.
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