De acordo com nota oficial divulgada em primeira hora pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão regulador brasileiro vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, um veículo especializado no transporte de produtos radioativos da empresa Medical Armazenagem Logística e Distribuição Ltda, com sede em São Paulo, foi furtado no dia 30 de junho na cidade de São Paulo.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), a Polícia Civil confeccionou um boletim de ocorrência manifestado pela empresa responsável pelo veículo.
O veículo, marca/modelo VW saveiro, que continha um gerador de 68Ge/68Ga e 4 unidades de blindagens de geradores de 99Mo/99mTc exauridos, foi furtado entre 29 e 30 de junho na Zona Leste de São Paulo.
Neste momento, de acordo com uma fonte envolvida familiarizada com a situação, autoridades da Policia Civil buscaram contato com a Polícia Federal, mas entende que a Civil do Estado de São Paulo está seguindo as investigações junto com a Polícia Militar e a Comissão nacional (CNEN).
A impressão é que todo o caso está sendo tratado com naturalidade pelo meio público, no entanto, a situação não é nada amistosa, o material possui periculosidade para a saúde humana e estabilidade do meio ambiente, sendo classificado como Categoria 4 de acordo com o Código de Conduta em Segurança de Fontes Radioativas da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA).
No entanto, a manipulação incorreta e exposição pode trazer graves problemas, como ocorreu no caso do Césio-137 em Goiânia, no Estado de Goiás, o maior acidente radiológico da história do Brasil e que afetou mais de mil pessoas.
Na época, em 13 de setembro de 1987, dois catadores de recicláveis retiraram e desmontaram parte de um aparelho protegido por chumbo que não havia sido descartado de forma correta. O objeto foi então vendido a um ferro-velho, onde mais pessoas terminaram de desmontá-lo, contaminando centenas de pessoas.
Vale lembrar que o Césio-137 do acidente de Goiânia era de categoria 5, sendo de baixo risco, mesmo assim ocasionou o maior desastre radioativo do Brasil.
De acordo com ao divulgado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a partir do boletim de ocorrência confeccionado pela Polícia Civil, “o carro, pertencente a uma empresa de equipamentos médicos, armazenava uma carga de materiais radioativos que foram coletados no Rio de Janeiro e seriam entregues no Paraná e em Santa Catarina. Diligências estão em andamento para recuperar o material e o veículo furtados e identificar o autor do crime“.
Tudo aconteceu após o motorista que conduzia o veículo (Placa RFI873) da empresa Medical Armazenagem estacionar o veículo na noite de sábado, 29 de junho, em frente a sua residência no Jardim Bandeirantes, na Zona Leste de São Paulo. No dia seguinte, em 30 de junho, o motorista se deparou com a ausência do veículo por volta das 7h30 da manhã.
A CNEN emitiu uma nota oficial longa em seu site para comunicar e orientar toda a população sobre os riscos à saúde que podem ter caso manipulem os produtos. De acordo com o Diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS/CNEN):
“A empresa de Transporte MEDICAL ALD por meio de e-mail à Diretoria de Radioproteção e Segurança (DRS) da CNEN, às 21h57 do dia 30/06/2024, comunicou o furto do veículo de transporte de material radioativo de marca/modelo VW saveiro, placa RFI873 que continha um gerador de 68Ge/68Ga e 4 unidades de blindagens de geradores de 99Mo/99mTc exauridos. A referida empresa, que possui Supervisor de Proteção Radiológica em Transporte e Plano de Proteção Radiológica para Transporte aprovado pela CNEN, estava à serviço da R2PHARMA, Radiofarmácia Centralizada LTDA, que por sua vez, também enviou comunicação à DRS dia 01/07 comunicando o ocorrido”.
De acordo com o momento da ciência do furto do veículo pelo motorista e a nota da CNEN, a empresa demorou cerca de 14h para notificar a CNEN sobre a situação.
Ainda na nota do Diretor da CNEN, “o veículo transportava a fonte geradora de radiofármacos rumo as cidades de Curitiba/PR e Blumenau/SC para uso médico. Essa fonte de Germânio/Gálio (68Ge/68Ga) foi fabricada pela empresa Eckert & Ziegler e possui uma atividade corrigida de 29,73mCi, segundo sua última calibração realizada em 11/12/2023.
Segundo o Código de Conduta em Segurança de Fontes Radioativas da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) essa fonte, por sua baixa atividade, se enquadra na categoria 4, representando risco radiológico muito baixo para a população e o meio ambiente”.
O Germânio/Gálio (Ge/Ga) é um gerador de radionuclídeos, um dispositivo usado para fazer uma solução que contém a substância radioativa (chamado de radionuclídeo) gálio (68Ga), que pode ser usada no setor médico-hospitalar para fins diagnósticos. O Ge/Ga não foi concebido para ser usado diretamente em pacientes.
O Ge/Ga usa germânio radioativo (68Ge para gerar gálio (68Ga). É impraticável transportar soluções contendo gálio (68Ga) para uso em hospitais, porque ele decai muito rápido. Em vez disso, Ge/Ga usa germânio (68Ge), que é mais estável, para criar uma solução de gálio (68Ga).
Continuando a nota da CNEN, “um boletim de ocorrência foi aberto pelo representante da empresa na MEDICAL ALD junto à 49º D.P. SÃO MATEUS, no dia 01/07/2014 às 12h22, relatando o ocorrido. Consta que, por imprudência do motorista, que decidiu levar o automóvel para local diverso do pátio seguro onde o veículo deveria ficar abrigado durante à noite, o veículo foi furtado.
Desde então, o corpo técnico da CNEN está agindo no sentido de levantar informações sobre a fonte roubada e já apurou que o cadastro da empresa transportadora está regular junto ao órgão regulador, estando autorizada a realizar operações de transporte de materiais radioativos.
Ao mesmo tempo, preparou-se uma divulgação para imprensa informando a população sobre o furto e que, apesar da baixa atividade da fonte e de não se esperar efeitos determinísticos imediatos, a manipulação inadequada e de forma constante, ainda pode vir a causar danos à saúde do manipulante”.
Como bem salientado pela nota do Diretor da CNEN, “apesar da baixa atividade da fonte e de não se esperar efeitos determinísticos imediatos, a manipulação inadequada e de forma constante, ainda pode vir a causar danos à saúde do manipulante”, isso porque, assim como aconteceu com o Césio-137 que toda a proteção de chumbo e outros metais havia sido violado, a exposição do Ge/Ga pode causar danos permanentes à saúde humana e ao ambiente, levando ainda à morte.
Como o Ge/Ga pode ser usado na medicina? Quando um paciente recebe uma dose especifica e controlada do medicamento radiomarcador, ele carrega a substância radioativa para células específicas do corpo, como as células tumorais.
O medicamento carreador libera uma pequena quantidade de radioatividade que pode ser detectada de fora do corpo usando uma varredura corporal conhecida como tomografia por emissão de pósitrons (PET), que são partículas de elétrons. Isso pode ajudar os médicos a diagnosticar a doença ou descobrir onde essas células estão no corpo, como na imagem abaixo de um exame PET Scan.
De acordo com a CNEN, o motorista foi imprudente ao estacionar um material radioativo em um local não apropriado para acondicionamento, dizendo em nota que, “por imprudência do motorista, que decidiu levar o automóvel para local diverso do pátio seguro onde o veículo deveria ficar abrigado durante à noite, o veículo foi furtado”.
Não foi a primeira vez que isso ocorreu. Quase na mesma época, na noite de 26 de junho de 2023, uma mineradora, localizada em Minas Gerais informou as autoridades que duas fontes seladas de Césio-137 encontravam-se desaparecidas, havendo probabilidade de terem sido furtadas.
Organização terrorista seria a maior interessada?
Não houve qualquer novas informações divulgadas ao público pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, no entanto, não se pode descartar a participação de organizações criminosas no furto que poderiam fornecer os materiais a um agente ou organização reconhecidamente terrorista e que atuam, mesmo que de forma discreta, no Brasil.
Recentemente, em novembro de 2023, as autoridades brasileiras frustraram um plano terrorista do Hezbollah contra alvos judeus no Brasil, incluindo duas sinagogas na capital do país, Brasília. De acordo com informações Emanuele Ottolenghi, as autoridades foram informadas pelo Mossad de Israel, e a Polícia Federal (PF) inicialmente deteve vários cidadãos brasileiros, supostos agentes contratados pelo Hezbollah.
Eventualmente, a PF identificou dois cidadãos brasileiros de ascendência do Oriente-Médio como os líderes do plano: Mohamed Khir (ou Kheder) Abdulmajid, que é sírio, e Haissam Houssim Diab, que é libanês. Abdulmajid e Diab, de acordo com a PF, atraíram pelo menos seis brasileiros para Beirute, onde lhes ofereceram grandes somas de dinheiro para atingir alvos judeus em Brasília, incluindo duas sinagogas.
Toda essa situação tem envolvimento de mercernários brasileiros, incluindo empresários, que recebem investimentos do Irã.
Como o material radioativo poderia ser usado pelo grupo terrorista no Brasil ou no exterior? Além disso, os ataques de 11 de Setembro de 2001 mostraram claramente que existem grupos com recursos financeiros e humanos consideráveis, bem como com a vontade de infligir os maiores danos possíveis.
Existem duas maneiras imagináveis de os terroristas obterem explosivos/bombas nucleares. Eles poderiam tentar construir um dispositivo nuclear improvisado (IND) ou poderiam tentar roubar ou comprar uma arma nuclear, o que é muito difícil, arrisco em dizer quase impossível.
A maneira mais fácil é desviar/furtar materiais radioativos e misturá-los com explosivos convencionais, forjando uma bomba suja que poderia causar danos físicos imediatos com a explosão e, posteriormente, danos à saude humana e ambiental de todos aqueles envolvidos. Há também a hipótese do uso terrorista dos agentes radioativos em locais de tratamento de água, manipulação de alimentos etc.
Em uma cúpula de segurança nuclear em 2012, o Diretor-Geral da AIEA na época, Yukiya Amano, destacou que “uma bomba suja detonada em uma grande cidade poderia causar pânico em massa, bem como sérias consequências econômicas e ambientais”.
Com informações complementares de Imaging Technology News, CNEN,
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