Vladimir Putin oficializa a guerra pelo Alasca? Decreto presidencial reconhece “ilegalidade” na venda

Vladimir Putin emite decreto presidencial reconhecendo que territórios e ativos transferidos no passado devem ser retomados.

O medo da comunidade internacional diante da Guerra na Ucrânia está se revelando cada vez mais: uma guerra entre EUA e Rússia. As hostilidades por trás da guerra de atrito e de desgaste na Ucrânia têm repercutido nos bastidores políticos das grandes potências.

De um lado uma Rússia que estava cada vez mais cercada bélica e economicamente, posteriormente obteve importantes acordos que, somados, construíram alianças antes vistas somente durante as guerras dos Impérios e na Segunda Guerra Mundial, onde rivais se alinharam para um objetivo comum.

A Europa e EUA, diante desta crise regional no velho continente, já forjaram novas alianças vistas antes das principais guerras acontecerem. A partir de então, as áreas mais críticas se fortaleceram, mais de 50 nações passaram a fortalecer a Base Industrial Geral de uma Ucrânia que passou a ter uma das principais Forças Armadas do Mundo.

Diante disso, a crise política se expandiu além do Leste Europeu. A China aumentou suas retóricas contra Taiwan, e sinais de possibilidades de ascensão do Exército Chinês para além do Estreito de Taiwan contra a pequena ilha vão ganhando força e tomando forma com as influências da invasão da Rússia na Ucrânia.

Elevando mais as tensões, em 18 de janeiro, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto que torna ilegal a venda do Alasca aos EUA, então o território deve ser declarado ocupado.

Decreto presidencial de Putin em 18 de janeiro.

O Decreto presidencial diz que “de acordo com o subparágrafo 1° do parágrafo 2° do artigo 785 do Código Orçamentário da Federação Russa, passa a designar a empresa unitária estatal federal “Empresa de gestão de propriedades no exterior” da Administração do Presidente da Federação Russa como beneficiária de um subsídio fornecido do orçamento federal para apoio financeiro aos custos associados à procura de bens imóveis da Federação Russa, do antigo Império Russo, da ex-URSS; do registo adequado dos direitos da Federação Russa em relação aos bens imóveis federais existentes e de imóveis da Federação Russa, do antigo Império Russo, da ex-URSS e da proteção legal dessa propriedade”.

Ou seja, todas as questões envolvendo os antigos territórios até então soberanos russos e do Império Russo, o que pode incluir o Alasca dos EUA.

La chaîne d’Alaska en rose. Creative Commons 3..0

Uma breve história de como o Alasca se tornou parte dos Estados Unidos. A Rússia vendeu o território em 1867 por US$ 7,2 milhões, um acordo considerado mutuamente benéfico naquela época. Hoje em dia, o Alasca, um pedaço separado dos EUA, é um dos cinquenta estados que constituem o país e faz parte integrante dele há mais de 150 anos. No entanto, os russos não estão satisfeitos com isso.

Decreto presidencial de Putin em 18 de janeiro.

A tradução livre para o inglês do Decreto presidencial russo não menciona diretamente o Alasca. O termo contido no decreto “Empresa de Gestão de Propriedades no Exterior” um subsídio para “buscar imóveis da Federação Russa, do antigo Império Russo, da ex-URSS [União Soviética]…”, se refere uma justificação para a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas alguns especialistas interpretam a parte do “antigo Império Russo” como uma expressão de interesse em recuperar o Alasca.

No entanto, como já destacado, os EUA não conquistaram o território gélido por meio de guerra com os russos, a Rússia o vendeu ao equivalente hoje em torno de US$ 138 milhões, sem contar as infraestruturas que chegariam a mais de 10 bi.

O secretário de Estado americano na época, William Seward, comprou o território sem saber ou perceber exatamente as riquezas por debaixo da terra gélida. O ouro foi encontrado lá em 1898, e ricas reservas de petróleo foram descobertas lá na década de 1970.

Putin é martelado por este desejo expansionista e de voltar às terras do Império Russo há anos, inclusive a anexação da Crimeia em 2014 fez parte dos planos ambiciosos do presidente e de seus oligarcas. A Ucrânia não conquistou a Crimeia, também não a comprou.

Meses atrás, fiz uma análise com alto rigor de detalhes científicos e documentais sobre a questão da Crimeia no vídeo intitulado “Afinal, A Península Da Crimeia É Da Rússia Ou Da Ucrânia? Uma Revisão Histórica”, e mostrei que Península da Crimeia fazia parte da Rússia desde 1783, no entanto, o governo soviético transferiu a Crimeia da Federação Soviética Russa das Repúblicas Socialistas (RSFSR) para a União Soviética Ucraniana em 1954.

Oito dias depois que o Presidium Supremo Soviético da URSS, a mais alta instância do poder Legislativo soviético, adotou uma resolução autorizando a mudança em 19 de fevereiro daquele ano.

Na verdade, foi após a anexação da Crimeia que as retóricas putinistas começaram a ganhar força no Kremlin e no parlamento sobre anexar terras que faziam parte da Rússia. Este desejo tem assegurado a permanência de Putin no poder porque sustenta de alguma forma o eixo econômico do País e seus políticos e bilionários que fazem a justiça e a política da grande Rússia.

“Por que você precisa do Alasca?” Putin disse durante um painel de perguntas e respostas em 2014. O presidente russo passou a chamar a compra do Alasca de “barata” e instou seus eleitores a “não se preocuparem com isso”.

O apresentador de TV estatal russo Kirill Kleymenov disse a Putin que o estado é jocosamente chamado de “Crimeia de Gelo”. Houve também uma petição para o Congresso Americano chamada “Alasca de volta à Rússia”, que obteve mais de 42 mil assinaturas e foi amplamente coberta pela mídia russa em 2014, antes de ser removida.

Há uma forte presença histórica da Rússia nos EUA do pacífico. Por exemplo, a região de Fort Ross, na Califórnia, foi construída por uma empresa russo-americana em 1812. O assentamento foi vendido a mãos privadas em 1841, depois que sua rica vida marinha se esgotou e os residentes acharam difíceis as condições para a agricultura.

Em 1815 e 1816, a empresa fechou um acordo com o Reino do Havaí para abrir três postos avançados de curta duração em suas ilhas, mas foram expulsos no ano seguinte, em 1817, por hastearem a bandeira do Império Russo.

A colonização russa da América do Norte abrange o período de 1732 a 1867. Os russos estavam interessados principalmente na abundância de mamíferos peludos na costa do Alasca. O Alasca e a Rússia compartilham uma fronteira. A fronteira marítima EUA-Rússia ziguezagueia pelo Estreito de Bering entre as massas terrestres asiáticas e americanas.

O Alasca e a Rússia estão separados por menos de 3 milhas em seu ponto mais próximo no Estreito de Bering, onde estão localizadas duas ilhas, a Ilha Grande Diomede da Rússia e a Ilha Pequena Diomede do Alasca. No inverno, é possível atravessar a fronteira congelada do Estreito de Bering entre essas duas ilhas.

Com este novo fato em curso cada vez mais alarmante, Vladimir Putin parece ter repensado a venda do Alasca aos americanos, e não se trata de uma piada ou algo a ser ridicularizado, a Rússia fala sério e o Kremlin está tentando dar a impressão de que sua influência se estende não apenas aos acontecimentos futuros de seu país, mas também aos planos de reescrever o passado.


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Felipe Moretti
Felipe Moretti
Jornalista com foco em geopolítica e defesa sob registro 0093799/SP na Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. Especialista em análises via media-streaming há mais de 6 anos, no qual é fundador e administrador do canal e site analítico Área Militar. Possui capacidade técnica para a colaboração e análises em assuntos que envolvam os meios de preservação e manutenção da vida humana, em cenários de paz ou conflito.
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