Alemanha de olho no lítio brasileiro e de toda América do Sul. A mudança de governo no Brasil facilitará a exploração de minerais

Argentina, Brasil e Chile se tornaram o alvo das potências e correm o risco de se tornarem novas colônias exploradoras da nova demanda energética.

Sabe-se que a Alemanha, um dos centros automotivos mais antigos e competitivos do mundo, está profundamente preocupada em obter e manter o acesso ao lítio, um componente essencial das baterias usadas para alimentar veículos elétricos (EVs) que os ativistas ambientais tanto promovem e, na verdade, estão contribuindo com o desmatamento e o trabalho insalubre.

Este tema foi abordado pela revista The National Interest, que descreve o continente europeu escasso em reservas do minério lítia, e sem o lítio, haverá sérios problemas na fabricação das baterias usadas para alimentar os veículos elétricos.

Porém, há uma saída, cerca de 60% da oferta total do mundo está em três países frequentemente referidos como o “triângulo do lítio” – Argentina, Bolívia e Chile – e consideravelmente o Brasil.

Situado em quinto lugar na produção mundial do minério, o Brasil ascendeu no mercado nos últimos anos, com uma importante produção de 400 toneladas métricas ou menos entre 2011 e 2018, e incríveis 2.400 toneladas métricas só em 2019.

De acordo com estudo de Paulo Braga et al a indústria do lítio no Brasil data do final dos anos 60, quando a empresa Orquima iniciou a produção de carbonato de lítio a partir do minério de ambligonita. Em 1987, a Nuclemon (sucessora da Orquima) paralisa a produção de sais de lítio, devido a dificuldades operacionais no suprimento regular de minério, bem como pela depreciação de suas instalações e, ainda, a problemas ambientais em suas instalações industriais.

Os alemães têm um concorrente de peso no setor para importação, a China, o país que mais tem acesso ao lítio do mundo, que também produz atualmente 79% das baterias de íon-lítio, lida com metade do refino de lítio do mundo e tem sua própria indústria de VEs em rápida expansão.

A visita do chanceler alemão Olaf Scholz pela América do Sul por volta do final de janeiro deste ano trouxe os interesses pelos minerais do continente, facilitado agora pela mudança de postura ideológica e política do Brasil e da Argentina, duas nações com governos de extrema esquerda que buscam estreitar relações com Estados ditadores e Estados que oferecem dinheiro em troca de acesso às riquezas nacionais.

Olaf Scholz se reuniu com os líderes da Argentina, Chile e Brasil no início do ano, com a intenção declarada de ajudar as empresas de seu país a desenvolver “laços comerciais mais fortes” com a América do Sul.

As empresas alemãs têm atuado tradicionalmente na região, especialmente na indústria automotiva e, mais recentemente, com energia renovável. A Alemanha é um dos 10 principais parceiros comerciais dos três países visitados e um importante investidor estrangeiro direto, ou seja, possui um peso em decisões por meio da dissuasão econômico, um recurso que não funcionou durante o Governo Federal de Jair Bolsonaro (2019-2022).

Em agosto de 2019, a Alemanha suspendeu as contribuições ao Fundo Amazônia após congelar R$ 155 milhões para “proteção ambiental” no Brasil. No mesmo mês a Noruega acompanhou a Alemanha e anunciou também a suspensão do repasse financeiro de R$ 133 milhões ao Fundo Amazônia. Percebam a atividade paralela e combinada de dissuasão.

O dinheiro financiado pelos europeus ao Fundo Amazônica é gerenciado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sendo a Noruega o principal doador desde a criação do pacto com o Brasil, em 2008.

Qual(is) foi(ram) a(s) alegação(ões)? O ministro do Clima e do Meio Ambiente norueguês, Ola Elvestuen, destacou que o Brasil “quebrou” o acordo firmado com a Noruega e Alemanha.

Segundo ele, “o Brasil suspendeu a diretoria e o comitê técnico do Fundo para a Amazônia […]  não poderiam ter feito isso sem que a Noruega e a Alemanha concordassem […] o que o Brasil fez mostra que eles não querem mais parar o desmatamento”.

Entretanto, não foi bem assim. A equipe técnica de Bolsonaro muito bem formado na época rebateu a decisão da Alemanha e da Noruega de impor sua política e dissuasão econômica para “comprar a prestações a Amazônia”, dinheiro que chegava para ONGs manter a péssima fiscalização e estimular a disputa social e territorial pelas regiões amazônicas, além de, supostamente, cometer diversos delitos ambientais para culpabilizar o Governo Federal.

O então Presidente Jair Bolsonaro foi enfático e mandou um recado para a chanceler alemã da época, Angela Merkel: “Eu queria até mandar um recado para a senhora querida Angela Merkel, que suspendeu 80 milhões de dólares para a Amazônia. Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que aqui”.

Após o movimento contrário do governo federal em negar atividades estrangeiras duvidosas em áreas estratégicas no País, a Alemanha ficou desesperada, juntou-se a outras nações e ativistas para boicotar a imagem do Brasil – e conseguiu, é claro.

Toda a propaganda negativa do exterior para com o Brasil teve a intenção de enfraquecer o Governo Bolsonaro mesmo que custasse a estabilidade de uma nação inteira que gozava de estabilidade geopolítica, econômica, relações internacionais e agrícola.

As operações menores de mineração no Brasil, China, Portugal, EUA e Zimbábue contribuem para a produção de lítio no cenário global competitivo, sendo Chile, Austrália, Argentina e China, juntos, detêm cerca de 95% das reservas atualmente conhecidas no mundo.

A visita de Olaf Scholz na América recebeu maior atenção na sua vinda ao Brasil para se encontrar com o Chefe da República Federativa Brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva (Lula-PT), a fim de revitalizar o acordo comercial União Europeia-Mercosul.

Não houve qualquer divulgação ao público sobre possíveis negociações ou conversas sobre o lítio brasileiro em abundância na região Sudeste, em especial nos depósitos de Lítio em Rubelita, Araçuaí-Itinga e Grota do Cirilo no Vale do Jequitinhonha, todos em Minas Gerais (MG).

Porém, o Lítio apareceu nas negociações com a Argentina e o Chile. Considerando que o setor automotivo desempenha um papel importante na economia alemã, garantir fontes de lítio para baterias de EVs tornou-se uma questão de urgência em Berlim, e o Brasil poderia ser usado para isso, já que as relações econômicas e políticas foram novamente estreitadas com o atual mandatário brasileiro.

Veículo Elétrico ID4. Foto: Volkswagen

As nações da América ainda se comportam como colônias de exploração para as nações desenvolvidas. Após entender que o Lítio seria a necessidade maior da metade em diante da década de 2020, a Alemanha logo buscou explorar diversas nações, entre elas a Bolívia, mas não deu certo.

Em 2018, a Bolívia negociou dois acordos de joint venture, um com a alemã ACI Systems para produzir hidróxido de lítio e outro com a chinesa Xinjiang TBEA para produzir lítio a partir de duas salinas.

O acordo foi recebido com bastante empolgação na Alemanha, com o então Ministro da Economia do país, Peter Altmaier, afirmando: “A Alemanha deve se tornar um local líder na produção de células de bateria. Grande parte dos custos de produção está ligada às matérias-primas. A indústria alemã é, portanto, bem aconselhada a garantir suas necessidades de lítio o mais cedo possível, a fim de evitar ficar para trás e cair na dependência”.

A empolgação alemã com o acordo durou pouco, protestos bolivianos eclodiram em 2019 devido às demandas locais por royalties mais altos para o país. Confrontado com uma reação nacionalista, Morales cancelou os contratos, e logo também foi deposto do cargo de presidente após 14 anos de ditadura e acusado por crimes graves.

Os manifestantes exigiam a revogação da sociedade mista entre YLB e ACI Systems e que sejam aumentados os royalties pela exploração do lítio no Salar de Uyuni.

Estima-se que o Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, contenha mais de 50% da reserva global de lítio. Conforme os termos do acordo, a YLB deteria 51% das ações da joint venture e a ACI Systems, 49%. Era prevista uma produção anual de 30 mil a 40 mil toneladas de hidróxido de lítio a partir de 2022, com investimentos de 300 a 400 milhões de euros.

Também houve rumores de que o controle sobre as reservas de lítio foi o verdadeiro motivo da saída forçada de Morales, que teria sido feita com o apoio dos governos ocidentais e do proprietário da Tesla, Elon Musk.

Posteriormente, em 2022, a Bolívia, agora no governo de Luis Acre, iniciou um programa para se tornar a “capital mundial do Lítio”, para fornecer 40% de todo o lítio mundial em circulação no planeta até 2030.

Foi então que, no final de janeiro de 2023, a Bolívia assinou um acordo com o consórcio chinês CBC para desenvolver os depósitos de lítio. A YLB estima que o lítio começará a ser exportado em 2025. Como parte do acordo, a CBC realizará a construção de “infraestrutura, rodovias e condições necessárias para iniciar as fábricas”, um modus operandi de expansão chinesa.

Após amargar a busca pela maior reserva de Lítio do Planeta na Bolívia, a Alemanha mantém sua mira no Brasil, Argentina e Chile.

Apesar da contínua agitação política, há um amplo consenso na Argentina de que o lítio está aberto para negócios, embora existam desafios ambientais. O Chile tem um sistema mais estruturado e aguarda planos do governo para possivelmente criar uma empresa estatal.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), atualmente, os depósitos de lítio economicamente viáveis estão distribuídos em três grandes categorias: minérios com origem em rochas sãs (pegmatitos); minérios originados em salmouras evaporíticas continentais (além de salmouras hidromórficas e geotermais – estes últimos menos expressivos); e minérios originados de argilas hectoritas, e outros minerais de argilas menos comuns, que também podem conter lítio, como a jadarita.

Em visita à Argentina e ao Chile, Scholz destacou três pontos importantes para acordos econômicos que mais demandam para Berlim que para Buenos Aires e Santiago.

Primeiro, a Alemanha quer avançar em sua transição energética de combustíveis fósseis para energia mais limpa, o que significa maior uso de baterias de lítio para veículos elétricos e outros bens tecnológicos e serviços públicos. Buenos Aires e Santiago são importações do novo mapa energético de Berlim.

Em segundo lugar, a Alemanha quer garantir as fontes de energia certas para acabar com sua dependência do combustível fóssil russo e reduzir a alavancagem chinesa em baterias de lítio.

Para a Alemanha, a guerra russo-ucraniana que eclodiu em 24 fevereiro de 2022 foi altamente perturbadora, pois acabou com sua considerável dependência da Rússia por petróleo, gás natural e carvão, uma situação excelente para os ativistas ambientais, mas na realidade também foram prejudicados e degradou ainda mais o ambiente da Europa, após Termoelétricas – ativas com carvão mineral – serem obrigadas a operar para suprir as demandas ELÉTRICAS dos carros elétricos e de toda a sociedade.

Além disso, o fechamento da indústria nuclear do país e os programas de combustível alternativo mais lentos do que o esperado deixaram o governo Scholz lutando para garantir novas fontes de energia, com o chanceler e outros altos funcionários visitando vários países do Oriente-Médio e da África para garantir o fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) e petróleo.

Em terceiro lugar, a Alemanha está muito aberta à ideia de permitir que o valor local seja adicionado ao processo de produção. Em Buenos Aires, Scholz afirmou, “a questão é: não se pode deslocar o processamento desses materiais, que criam milhares de empregos, para os países de onde vêm esses materiais?”

Isso significa dizer que um país não precisa ter um acordo de livre comércio com a Alemanha para desenvolver o comércio de lítio e/ou baterias, que é a política dos EUA sob o Inflation Reduction Act (IRA) aprovado em 2022. Com o IRA, será muito mais fácil exportar lítio chileno para os Estados Unidos do que a Argentina fazê-lo.

No entanto, os Estados Unidos, como a Alemanha, enfrentam limitações em seu fornecimento de lítio, bem como consideráveis ??obstáculos ambientais, já que o governo Biden cancelou vários negócios recentes de mineração relacionados a energia limpa que, na verdade, não existe.

As visitas de Olaf Scholz ao Brasil, Bolívia, Argentina e Chile tiveram único e exclusivo foco, mostrar a “importância” destas regiões para com o mercado energético que toma forma, e a Alemanha se mostra presente em competitividade com EUA e China em busca de melhores colônias de exploração e, no caso, essas nações sul-americanas se destacam por serem constituídas de governos politicamente instáveis com sede por dinheiro e status quo.

Patrocinado por Google

Deixe uma resposta

Área Militar
Área Militarhttp://areamilitarof.com
Análises, documentários e geopolíticas destinados à educação e proliferação de informações de alta qualidade.
ARTIGOS RELACIONADOS

Descubra mais sobre Área Militar

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading